terça-feira, 4 de março de 2008

Coisas que ninguém sabe

"Abrace a sua loucura antes que seja tarde demais" - Caio Fernando Abreu



Andei colecionando uma série de "loucuras" minhas e de outras pessoas... É engraçado como o que foge a uma dita "normalidade" vira loucura, anormalidade, "originalidade", "excentricidade" para os outros...
Lembro que eu escrevia um caderno na minha adolescência, vários discursos que eu talvez nunca faria, frases que eu não diria, músicas que eu tive vontade, mas não cantaria pra alguém... Ficava tudo lá, como que enterradas, sacramentadas e cerradas num relicário sem acesso. Eram coisas pra parentes, pra alguns "desafetos" (nem sei se eu realmente tinha desafetos, coisas de adolescente pseudo-rebelde), amigos imaginários, pessoas que eu via na rua, personalidades, "celebridades" (que na época eram mais celebridades do que atualmente), para amores e amigos... esses sempre "não recebiam" minhas cartas, poemas, as músicas... Mas estavam todos lá, e todas as coisas que eu sempre quis dizer e jamais diria...
Até o dia que queimaram meus cadernos... E eu só soube quando tudo já estava cinza. Perdi tudo o que eu tinha não dito a todas essas pessoas, e não sei se isso foi desvantagem. Mesmo com a crueldade do ato em si.
Lembrei disso essa semana por causa de uma amiga do teatro. Ela disse que tem pilhas de cartas na casa dela que ela escreve e nunca envia. Teve gente que riu quando ela contou. Cartas pra mãe, pros amigos, pros amores, cartas que ela jamais entregaria, dizendo tudo o que desejava falar e jamais falaria... Tive a curiosidade "mórbida" de perguntar se havia nem que fosse um bilhetinho pra mim... Ela disse que sim... Não sei se fiquei triste ou feliz... rsrsrs Porque me senti importante, como as pessoas que eu escrevia tinham alguma importância, mas me senti em pânico, porque eu jamais saberei o que foi escrito.
Teria sido tudo perda de tempo? Loucura? Esquizofrenia? Solidão intensa?
Tenho pensado em reativar esse meu cemitério de idéias desde essa conversa... Apesar de hoje eu falar mais o que quero e preciso falar, ainda assim há muita coisa guardada, principalmente pra alguém que ainda não conheci.


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